Os animais estão morrendo e o homem também
O anúncio do programa Mais Irrigação, lançado esta semana pela presidente Dilma, como forma de combater os efeitos da seca que vem arrasando o semiárido nordestino é a prova viva que o governo não tem ainda nenhum plano concreto e eficaz para enfrentar o problema.
Pensar em irrigação onde não se tem água para o consumo humano e animal, onde as pessoas clamam por um carro pipa, onde não existem tradição nem solos apropriados para isto, é pura ilusão. A menos que alguém queira se aproveitar da seca para defender seus interesses empresariais ou políticos.
Em Pernambuco, por exemplo, apenas nas margens do Rio São Francisco ou em algumas bacias sedimentares, como a de Jatobá e Belmonte existe água para irrigação. A maioria dos perímetros irrigados já está inviabilizada, devido ao baixo volume de água.
Então, que benefício às famílias que moram em Maravilha ou Samambaia iria ter com projeto de irrigação em Belém de São Francisco ou Inajá, por exemplo? Alguém precisa chegar junto à presidenta Dilma e dizer que não é por aí (irrigação), que vamos resolver o problema da seca.
Está claro que para enfrentar essa seca terrível, que já matou mais da metade do nosso rebanho e pode dizimar o restante em poucos meses, o governo precisa pensar em benefícios diretos ao produtor rural, que se encontra financeiramente arrasado, não bastasse o abalo físico, moral e psicológico pelo sofrimento que vem passando.
Como político, Agrônomo, cidadão e produtor rural, defendo medidas concretas, como: abastecimento d’água, investimentos na infraestrutura hídrica rural com perfuração e instalação de poços, tratamento de água por dessalinizadores, barragens subterrâneas, recuperação de nascentes, construção e recuperação de barragens e outras ações que se mostrem viáveis, dependendo de cada região; pesquisa e melhoramento para recuperação da palma forrageira, reforço dos programas assistenciais, como o Bolsa Família e outros, remissão das dívidas dos agricultores, junto aos bancos, etc.
Não tem mais nenhum sentido essas dívidas continuarem sendo cobradas, nem mesmo judicialmente, porque simplesmente o produtor rural, seja pequeno, médio ou grande, não tem mais nenhuma capacidade de pagamento. Estão apenas gerando um custo desnecessário com os trâmites administrativos e judiciais.
A sociedade como um todo tem que pressionar o governo, porque todos serão direta ou indiretamente afetados pelos efeitos dessa seca. O comércio perde vendas, porque o homem do campo deixa de gastar com roupas, festas e outros itens de menor necessidade, para comprar ração e água para seus rebanhos. Com isto a indústria também sofre, afetando toda cadeia de empregos.
Gilberto Nunes Valeriano
Agrônomo e Vereador