Saída de vice da articulação política agravaria dificuldades políticas e econômicas
Postado por: DANIELA MARTINS
Temer e Dilma acertaram os ponteiros em conversa ontem. Mas será preciso que a presidente honre os acordos feitos pelo vice e tome cuidado com a insatisfação no PMDB. De fato, há contrariedade de Temer com a demora de ministérios em liberar verbas e fazer nomeações acertadas por ele para tentar melhorar a relação do Palácio do Planalto com a sua base de apoio no Congresso.
Ao longo deste segundo mandato, tem prevalecido um clima permanente de insatisfação dos aliados com o governo. A popularidade baixa do governo não ajuda a controlar os aliados. E peemedebistas dizem a Temer que o governo está fazendo água e que o partido deveria se afastar. Ora, sem Temer, a situação caminharia dessa turbulência crônica para uma crise grave, pois poderia resultar numa ruptura antecipada com o PMDB. Isso seria jogar gasolina na fogueira de uma eventual discussão sobre impeachment.
Teria também efeito desastroso sobre a economia. Uma saída de Temer da articulação, ainda que mais à frente e sob a justificativa de que encerrou a votação do ajuste fiscal, seria interpretada como um afastamento da presidente e agravaria as dificuldades políticas e econômicas.Se a articulação política está ruim com Temer, pior sem ele. Se o governo está ruim, pior sem ele. O vice-presidente ainda consegue conversar com políticos que se recusam a falar com os ministros petistas mais importantes.
Nas votações do ajuste fiscal, Temer fez parceria com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Apesar de as medidas do ajuste terem sido desidratas pelo Congresso, foi aprovado um conjunto mínimo que ajuda o governo a melhorar o resultado das contas públicas. Também houve uma carona que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pegou nesse imbróglio. Em conflito aberto com o PT por causa da redução da maioridade penal, Cunha sugeriu que Temer poderia sair da articulação política do governo.Após uma sugestão desse tipo, Temer é praticamente obrigado a ficar, sob pena de passar a imagem de que seria comandado pelo presidente da Câmara. Sem querer, Eduardo Cunha ajudou Dilma a apagar o incêndio.
Foram grandes as reações contrárias à manobra do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para votar um segundo texto sobre a redução da maioridade penal após uma primeira derrota. As críticas foram bem maiores do que quando Cunha usou o mesmo método durante a reforma política.
Pela primeira vez, um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Marco Aurélio Mello, fez críticas duras à forma como Eduardo Cunha conduz a presidência da Câmara. O ministro do STF foi claro ao dizer que a manobra para aprovar um texto mais brando depois de rejeitada outra proposta sobre o mesmo tema seria inconstitucional. Cunha respondeu dizendo que a manobra obedeceu ao regimento. Mas o episódio gerou uma discussão jurídica e política grande. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e um grupo de deputados pretendem recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal) alegando ilegalidade.
Por enquanto, Cunha vem ganhando as batalhas. Ele sempre diz que está seguindo a vontade da maioria dos líderes partidários. No entanto, dessa vez, o peemedebista reuniu um número maior de opositores aos métodos que utiliza no comando da Câmara, que seriam ditatoriais na visão de seus críticos. A guerra sobre a redução da maioridade ainda irá longe. É provável que a proposta passe também no segundo turno da Câmara. O governo tentará derrubá-la no Senado. E há ainda o forte apoio da opinião pública à redução. A grande batalha pode acabar se dando no STF.
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