quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Custódia realiza, daqui a pouco, a I Conferência de Convivência com o Semiárido

A Audiência será realizada no Centro Paroquial, na Rua João Veríssimo, das 9:000 às 17:000 horas de hoje, sob a coordenação do Pe. Roberto Luciano, tendo como participantes, o governo municipal, câmara de vereadores, sociedade civil organizada e público em geral.

O Vereador Gilberto de Belchior irá encaminhar as sugestões abaixo:



À
COORDENAÇÃO DA I CONFERÊNCIA MUNICIPAL PARA ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO.

Senhor Coordenador.

Em virtude da Política Estadual de Convivência com o Semiárido e da realização da Conferência Municipal para elaboração do Plano Municipal de Convivência com o Semiárido, venho através de Vossa Senhoria encaminhar as seguintes sugestões:

1      – Da Elaboração do Plano

1.1  – Caracterização do Município.

O Município de Custódia está localizado no semiárido Nordestino, Região do Moxotó, com sua economia baseada na agropecuária, de sequeiro, basicamente como atividade de subsistência. Na atividade agrícola se destacam as culturas do milho e feijão, já tendo, no passado, explorado a cultura do algodão, que foi dizimado pela praga do bicudo.
Na atividade pecuária se destacam a ovino-caprinocultura e a bovinocultura. O município tem uma das maiores feiras de animais do Estado de Pernambuco, de onde são comercializados animais, principalmente de pequeno porte, para o agreste e capital do Estado.

1.2  – Identificação de Potencialidades

1.2.1     – Ovino-caprinocultura
1.2.2     - Bovinocultura
1.2.3     - Gastronomia
1.2.4     – Irrigação
1.2.5     – Avicultura
1.2.6     – Artesanato
1.2.7     - Agroindústria

Ovino-caprinocultura

O caprino tem como hábito alimentar o aproveitamento do feno nativo, ou seja, as folhas da caatinga nativa que secam, no período do verão e caem sobre o solo seco. Devido à diversidade de variedades nativas, o feno natural é igualmente diversificado em termos nutricionais, fazendo da época do verão, o período ideal de engorda desses pequenos animais.

Já os ovinos têm um hábito alimentar mais semelhante aos bovinos, mais propensos a se alimentarem de gramíneas, daí porque o casamento de caprinos e ovinos permite um melhor aproveitamento das nossas pastagens.
Uma atividade pecuária baseada na ovino-caprinocultura não pode prescindir de um bom manejo alimentar, no qual esteja contemplado uma Reserva Estratégica Alimentar que assegure a manutenção do rebanho no período de estiagem. (Ver Ações Estratégicas)

Bovinocultura

A bovinocultura já foi uma das principais fontes de renda do Município, atualmente enfrentando grandes dificuldades em virtude das fortes estiagens e da destruição da palma forrageira, pela praga da Cochonilha do Carmim.
Outro fator que vem “encurralando” a nossa bovinocultura é a nossa malha fundiária, que a cada ano fica mais fracionada, reduzindo os espaços para formação de pastagens extensivas.
Entretanto, a bovinocultura, tanto de corte quanto de leite ainda pode figurar como boa fonte de renda nas propriedades maiores e/ou naquelas com potencial de irrigação, para formação de Reserva Estratégica Alimentar.

Gastronomia

Por sua localização, em torno da BR 232, a cidade oferece uma boa opção pela gastronomia, explorando principalmente o fluxo de pessoas que trafegam pela BR.
Situada entre a capital do Estado e os maiores centros produtores do interior (Polo irrigado Juazeiro e Petrolina e polo gesseiro do Araripe), Custódia é ponto de parada obrigatório para quem vai ou vem desses polos, até porque as opções de alimentação para quem se desloca de Recife a Petrolina ou Araripina são poucas, potencializando ainda mais essa proposta.

Irrigação

A obra da transposição pode gerar uma nova fonte de emprego e renda no Município. A reativação do perímetro irrigado do DNOCS é apenas um dos exemplos, onde podem ser gerados mais de duzentos empregos diretos e outros indiretos. Algumas áreas de aluvião na região de Samambaia e Maravilha podem ser irrigadas, além de outras áreas de solos, bruno não cálcicos, ao longo de todo canal. Irrigação é uma das áreas que mais gera empregos e renda e por isso não pode deixar de figurar no presente Plano.

Avicultura

Com a implementação das obras da transposição e da transnordestina Custódia reunirá as melhores condições para implantação de um polo de avicultura e de outros animais confinados.
Em termos de logística, Custódia oferece as melhores condições para produção de aves, etc. Está a poucas horas de viagem para o Porto de Suape e tem a maioria das capitais do Nordeste num raio de 800 km.
Nosso clima favorece a atividade avícola, temos mão de obra barata e abundante, além de uma BR 232, por onde podemos escoar parte da produção.
A transnordestina terá papel preponderante nessa proposta, pois, fará com que a principal matéria prima da atividade avícola (soja e milho) chegue até nosso município por um custo inferior, tornando o negócio mais competitivo, fator crucial nesse tipo de atividade onde a economia de centavos pode fazer toda diferença.
A transposição irá complementar a cadeia de vantagens oferecidas pelo Município, trazendo o que é de mais importante para viabilização de um polo de avicultura. O Rio São Francisco tem uma das melhores águas doce do Planeta e irá garantir a sustentabilidade do empreendimento.

Artesanato

Há um tempo não tão distante a comida nordestina era feita em panelas de barro, confeccionadas nas próprias comunidades, uma tradição e uma cultura que passava de mãe para filhas. As panelas de barro e outros utensílios domésticos eram e ainda são vendidas nas feiras livres.
Outros  artigos também fazem parte da cultura nordestina, a exemplo dos arreios de vaqueiros, peças de tecidos, brinquedos, etc. Essa cultura ainda está viva na memória e na sabedoria popular. Talvez tenha que ser lapidada e trabalhada, para ser transformar em negócio.
A BR 232 continua sendo uma excelente vitrine para esse tipo de exposição, que se bem planejado pode ser mais uma boa fonte de emprego e renda.

Agroindústria

Custódia também é conhecida como a terra do doce. Certamente a Tambaú exerce uma grande influência nessa fama, mas, para quem não sabe, nós temos diversas outras pequenas fábricas de doces. Também temos fabricos artesanais de doces, da batata de umbu, doce de leite e diversos tipos de bolos.
Nesse seguimento podemos citar ainda como potencialidade, a agroindústria frigorífica para beneficiamento da carne e da pele de caprinos e ovinos, podendo surgir ainda nesse setor, a confecção de artigos de couros, outro mercado importante, que pode fechar toda essa cadeia, agregando valor ao nosso caprino e ovino, que atualmente vem sendo vendido em feiras livres, a preço irrisório.

1.3  – Identificação de Entraves

Historicamente, os grandes entraves para o desenvolvimento sustentável do semiárido nordestino tem sido a pouca oferta de água. As secas sucessivas, muitas vezes prolongadas dizimam plantações e criatórios, afetando o capital e afastando a mão de obra do campo.
O amadorismo também tem sido um grande entrave para o desenvolvimento, em todos os setores, inclusive por parte dos nossos empresários. Falta mão de obra especializa em praticamente todas as áreas, com exceção da construção civil, onde temos uma grande oferta de mão de obra especializada.
O excesso de programas sociais, sem a exigência de nenhuma contrapartida dos beneficiários acaba sendo um entrave para o desenvolvimento, porque as pessoas acabam se acomodando e perdendo o interesse pelo trabalho.
Nesse particular, entendo que os governos, como gestores dos programas sociais deveriam estabelecer metas educacionais e profissionalizantes de forma que os beneficiários desses programas, depois de determinado tempo, sejam obrigados a se educarem, se profissionalizarem e ingressarem no mercado de trabalho.
A falta de crédito e de assistência técnica também são grandes entraves, se bem que não dá para exigirmos crédito sem profissionalismo, sem capacitação, pois o Banco do Nordeste já fez isto na área rural e deu no que deu: bilhões foram injetados na agropecuária e esse dinheiro acabou saindo pelo “ralo”, deixando todo mundo inadimplente, sem produção, sem renda, além do dano ambiental monstruoso que ao longo dos anos vem deixando imensas áreas improdutivas por causa de práticas agrícolas inadequadas, culpa do amadorismo que está presente em todas as atividades, do qual já falamos anteriormente.

1.4  – Ações Estratégicas

Um Plano Municipal deve ser pensado a curto, médio e longo prazo, dependendo das prioridades e da complexidade de cada ação.
Em virtude da seca que vem impactando a própria sobrevivência humana, tentaremos elencar aqui algumas ações na área do abastecimento, deixando a discussão  sobre os diversos temas aqui abordados para o grande grupo que irá discutir o Plano Municipal de Convivência com o Semiárido.

Área Urbana (Sede)

A nossa área urbana é composta pela sede e pelos distritos. Em ambos a situação está ficando caótica em virtude da maior seca dos últimos 50 anos, merecendo toda nossa preocupação e ações estratégicas para o enfrentamento do problema.
Na cidade nós tivemos um grande avanço, a readequação do sistema de distribuição de água tratada, faltando agora o que é mais importante, a água.
O Açude do DNOCS, nossa principal fonte de água, deve entrar em colapso em dois meses. Não restará outra solução, em curto prazo, que não seja a Bacia de Fátima.
Mas, aí temos alguns problemas que precisam ser resolvidos: o volume de água que está sendo disponibilizado para Custódia não atende as nossas necessidades e existem problemas que precisam ser resolvidos, na adutora, a fim de que a mesma possa suportar maiores pressões e vazão, suficiente para atender as nossas necessidades, mesmo que em regime de racionamento.

A sugestão é a seguinte: Existe na Bacia de Fátima uma adutora que abastece a cidade de Flores. Ocorre que Flores já está sendo abastecida pela Adutora do Pajeú, então, podemos destinar essa água que seria de Flores para Custódia, desde que a nossa adutora seja readequada para receber esse aumento de vazão e de pressão.

Área Urbana (Distritos)

O maior distrito do Município, em termos populacionais e de renda é Quitimbu. Este poderia ser Abastecido por uma pequena adutora, proveniente da Bacia de Fátima, que está a menos de 20 km de distância do Distrito. A Compesa já dispõe de alguns poços nessa região, suficientes para abastecer toda região (Quitimbu e sítios vizinhos).
Para os demais distritos a solução seria a perfuração de poços artesianos e tratamento para a remoção dos sais da água, através de dessalinizadores. Isto para obtenção de água para o consumo humano. Para as demais necessidades, a solução seria utilizar a água bruta de poços artesianos ou carro pipa.

Área Rural

A área rural merece toda atenção no Plano Municipal de Convivência com o Semiárido, pelas razões já conhecidas, algumas das quais relacionamos a seguir:

1)    Está desprovida de infraestrutura hídrica capaz de suportar os longos períodos de estiagens;
2)    Ocupar grande espaço territorial, onde reside grande parte da população;
3)    Geração de emprego e renda proveniente da atividade agropecuária, impacto direto no comércio e na economia no do Município.

Ações Estratégicas Pontuais

·         Readequação da Adutora de Fátima com o objetivo de ampliar a oferta de água para a cidade;
·         Reativação do perímetro irrigado do DNOCS, através da transposição;
·         Abertura de novas áreas irrigadas, através da transposição;
·         Fortalecimento da ovino-caprinocultura, através de uma nova orientação de manejo, adequada à nossa realidade climática e mercadológica;
·         Implementação de uma cultura educacional voltada às necessidades do mercado de trabalho, com inclusão de novos paradigmas que englobem os esportes, a música, as artes em geral, visando à formação intelectual, cultural e profissional dos futuros cidadãos;
·         Realização de investimentos com a finalidade de geração de emprego e renda, através da implantação de um polo de alimentação, focado no público que trafega pela BR 232, além do público local;
·         Realização de estudos de engenharia e geologia com a finalidade de perfuração e instalação de poços artesianos, onde couber, inclusive com sistemas de tratamento de água, para o consumo humano e construção de açudes, onde não for viável a perfuração de poços. SUGESTÃO: Perfuração e instalação de poços artesianos, nas seguintes comunidades: Cacimba Limpa, Logradouro, Serra da Torre, Sabá, Calderão, Açudinho, Riacho Novo, Boa Vista, Umbuzeiro, etc., construção, recuperação e ampliação de açudes nas seguintes comunidades: Sobradinho, São Francisco, Poço do Capim, Jeramataia, etc.;
·         Construção de barragens subterrâneas, com a finalidade de armazenamento de água, no subsolo. Esse sistema de armazenamento tem inúmeras vantagens: 1) a água armazenada fica protegida da evaporação e consequentemente reduzindo a sua concentração e sais; 2) as barragens subterrâneas podem ser projetadas de forma a reter os materiais arrastados pela erosão, contribuindo para a redução do assoreamento dos rios e 3) aumenta as áreas de várzeas, devido a deposição de material orgânico e mineral e diminui as áreas inundadas;
·         Ampliação da oferta de água nas comunidades onde não for possível garantir a segurança hídrica através das formas anteriormente citadas, seja pela via federal, estadual ou municipal;
·         Recuperação da palma forrageira, indispensável para a formação de Reserva Estratégia Alimentar para os rebanhos, bovino, caprino e ovino. Como sugestão, temos as variedades: Orelha de Elefante Mexicana e a Palma Miúda ou Palma Doce, ambas resistentes à praga da Cochonilha do Carmim.
·         Implantação de Sistemas Produtivos para formação de Reserva Estratégica Alimentar dos rebanhos, (palma, milho, sorgo, etc.), com tecnologia de ponta, através da irrigação por gotejamento. São sistemas de baixo custo, que demandam pequena quantidade de água, podem ser empregados nos diversos tipos de solos e relevo e podem assegurar a sustentabilidade da pecuária do semiárido.

São essas as contribuições que apresento para esse momento inicial desse debate, me colocando a inteira disposição para colaborar com a elaboração do nosso Plano Municipal de Convivência com o Semiárido.

Custódia, 10 de outubro de 2013.

Gilberto Nunes Valeriano
      Vereador





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