Texto de Antônio Gasparetto Junior
O golpe militar ocorrido em 1964 estabeleceu no Brasil uma ditadura militar que permaneceu
até 1985. Ao longo dos anos o regime militar foi endurecendo o governo e
tornando legalizadas práticas de censura e tortura, por exemplo. Os
militares combateram sem piedade qualquer ameaça comunista ou manifestantes
contra o governo, marcando a história do Brasil por um período negro de atos
autoritários ao extremo.
Imagem de Miguel Arraes sendo deposto do governo de Pernambuco, em 1964.
A decisão de se
dar um golpe político por parte dos militares não foi algo repentino, aconteceu
como consequência de uma série de fatos políticos acumulados no período
republicano após Getúlio Vargas. Quando este presidente resolveu colocar um fim
a sua própria vida a situação política nacional já estava abalada, a
vacância do cargo máximo na política brasileira permitiu uma preocupante
conjuntura de sucessão presidencial. Juscelino Kubitscheck foi eleito em pleito
eleitoral direto para o governo seguinte, o então presidente desenvolveu um
governo que lhe foi possível conquistar o apoio popular, mas por vários
momentos os militares esboçaram um golpe de Estado. O sucessor na presidência
foi Jânio Quadros, o qual foi eleito com enorme apoio popular,
conquistando uma aprovação nas urnas que até então não havia sido
vista. A vitória imperativa fez com que Jânio Quadros acreditasse em um
auto-golpe de Estado. Crendo que o povo o apoiaria sempre, arquitetou um plano
de renúncia para voltar ao poder através de um pedido amplo de retorno que só
aceitaria se lhe fosse dado poderes absolutos. O plano de renúncia de Jânio
Quadros não funcionou e o cargo de presidente acabou ficando disponível para o
seu vice, João Goulart.
João Goulart era um jovem político que havia
aparecido na cena política nacional como Ministro do Trabalho do segundo
governo de Getúlio Vargas. Jango, como era chamado, tinha claras
aproximações com ideologias e políticas de esquerda, o que o fazia ser
considerado como uma ameaça. Para piorar, quando Jango recebeu a notícia da
renúncia de Jânio Quadros estava em viagem política na China comunista. Os
políticos de direita tentaram de várias formas impedir a posse do
vice-presidente, mas Brizola, primo de Jango e governador do Rio Grande do Sul,
sustentou o retorno e a posse legítima de João Goulart.
O presidente
empossado tentou aplicar uma política de esquerda, foi muito combatido pelos
direitistas e criticado como uma ameaça comunista. O estopim necessário para
explodir um golpe militar se deu quando Leonel Brizola e João Goulart fizeram
um discurso na Central do Brasil, Rio de Janeiro, no dia 13 de março,
declarando as reformas de base, lideradas pela reforma agrária. Nos dias
seguintes os
oposicionistas se organizaram e promoveram seis dias depois a Marcha
da Família com Deus pela Liberdade, o movimento de base religiosa tinha
como objetivo envolver o povo no combate ao maléfico comunismo. Assim, a
religião, o povo e o interesse norte-americano formavam a sustentação que
permitiria o golpe militar.
O golpe começou a
tomar forma prática quando no dia 28 de março de 1964 se reuniram em Juiz de
Fora, Minas Gerais, os generais Olímpio
Mourão Filho e Odílio
Denys juntamente com o governador do estado, Magalhães Pinto. A reunião visava
estabelecer uma data para início da mobilização militar para tomada do poder, a
qual ficou decidida como 4 de abril de 1964. Mas Olímpio Mourão Filho não
esperaria até abril para iniciar o golpe, ainda no dia 31 de março tomou uma
atitude impulsiva partindo com suas tropas de Juiz de Fora para o Rio de
Janeiro por volta das três horas da manhã. O general Castello Branco ainda tentou
segurar o levante ligando para Magalhães Pinto, segundo o militar o movimento
ainda era prematuro, entretanto não dava mais para parar.
Como legalista, ao
lado de João Goulart, o general Armando
de Moraes Âncora não estava satisfeito, mas quando recebeu a ordem
do presidente para prender Castello Branco não a cumpriu. O general Âncora
alegou que não queria iniciar uma guerra civil no país e então quando as tropas
do governo se encontraram com as dos golpistas se uniram e continuaram a
caminhada rumo ao Rio de Janeiro para efetivar o golpe que ocorreu no dia 31 de
março de 1964 por volta das dezessete horas. João Goulart, ao se deparar com as
tropas, também evitou uma guerra civil abandonando a presidência e se
refugiando no Uruguai.
O Congresso
Brasileiro providenciou então as medidas que tornaria legalizado o golpe, o
senador Auro Soares de Moura
Andrade declarou o cargo de presidente vago alegando que o
presidente havia abandonado o Brasil. As eleições presidenciais foram
prometidas para 1965, porém não realizadas, os militares passaram a eleger os
presidentes indiretamente durante a ditadura que se tornaria mais severa a cada
ano. O povo se mostrou confuso com o que estava acontecendo, mas o aparente
crescimento econômico fez com que a população se acomodasse. Mais a frente a
censura fez com que se calasse.
O golpe impediria
tentativas de implantação de uma política comunista no Brasil, com os anos
viriam os Atos Institucionais e
o regime que tomara o poder através de um golpe se estabeleceria sobre bases
legais, porém autoritárias.