Cisterna tradicional - mais barata e aprovada pelos usuários
Cisterna de plástico - deformada pelo calor do sertão
Depois de não alcançar a meta de construir um milhão de cisternas no semiárido nordestino entre 2003 e 2008, o governo federal está adotando um novo modelo de reservatório, feito de polietileno, para tentar acelerar uma das principais políticas de combate aos efeitos da seca na região.
As 300 mil cisternas de plástico --como ficaram conhecidas no Nordeste-- custam mais que o dobro daquelas construídas com placas de cimento. A escolha virou alvo de reclamações e protestos, que aumentaram este mês, quando as novas cisternas tiveram que ser substituídas depois de apresentarem deformações, em menos de três meses de uso.
Para o governo federal, a tecnologia é segura e será uma solução mais rápida para completar a conta de um milhão de cisternas até 2014, quando se encerra o mandato da presidente Dilma Rousseff. Ao todo, nesses três anos, serão construídas também 450 mil cisternas de placa de cimento.
Números oficiais apontam que cada cisterna de polietileno tem custo total (equipamento e instalação) de R$ 5.090, ou seja, mais que o dobro da cisterna de placas de cimento –que, segundo a ASA (Articulação do Semiárido), sai por aproximadamente R$ 2.200. Levando em conta os dados apresentados, enquanto as 300 mil cisternas de polietileno vão custar R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos, se a tecnologia utilizada fosse a de placas, esse valor seria de R$ 660 milhões.
O sonho de garantir o armazenamento de água para consumo aos nordestinos durante as estiagens é antigo e ganhou força em 2003, quando a ASA (que congrega 750 organizações civis da região) lançou o projeto “Um Milhão de Cisternas para o Semiárido”. A ideia teve e financiamento do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social), e a meta deveria ser cumprida em cinco anos. Mas, passados nove anos do lançamento, apenas 40% do total foi alcançado até 2011 –contando apenas as cisternas feitas em placas de cimento.
Nos oito anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva foram construídas 325.960 cisternas – média de 40 mil por ano. Em 2011, primeiro ano da gestão Dilma, essa média cresceu significativamente e o total de equipamentos entregues chegou 83.248. A estimativa oficial é que, considerando outras iniciativas públicas e privadas, tenham sido construídas até hoje 482 mil cisternas no Nordeste.
Para acelerar ainda mais e chegar à meta estipulada em 2003, o governo Dilma Rousseff garantiu que vai construir 750 mil cisternas --número que o governo considera suficiente para universalizar o armazenamento de água no Nordeste.
Com da experiência frustrada do projeto inicial, o governo resolveu adotar novas táticas e tecnologias. Para isso, lançou no ano passado o programa "Água para Todos", coordenado pelo Ministério da Integração Nacional (MDS). A ação acabou com a quase exclusividade da ASA na construção das cisternas, tirando também a gestão do assunto do MDS. Agora, Estados e municípios são os principais parceiros, indicando as necessidades das regiões e recebendo diretamente os recursos para a implantação.
Deformações
O problema são as cisternas de polietileno já entregues às famílias. Algumas delas apresentaram problemas menos de três meses após montadas. O caso ocorreu no município de Cedro, no sertão do Ceará, onde duas cisternas deformaram, supostamente por conta do forte calor da região. Fotos divulgadas pela ASA foram suficientes para uma série de protestos, inclusive nas redes sociais.
Em nota, a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), responsável pela instalação e manutenção das cisternas, informou que a responsável pela fabricação foi notificada e já teria entregado duas novas cisternas. “Ressalta-se que o Ministério da Integração Nacional adota rigorosos procedimentos de controle de qualidade durante a fabricação e a entrega das cisternas.” Ainda segundo a Codesvasf, o tempo de vida útil da cisterna é de no mínimo 20 anos.
O argumento é rebatido por especialistas. "Essas cisternas têm um ciclo pequeno. Daqui a um tempo, vai ser um monte de lixo plástico espalhado pelo Nordeste. Além disso, estive falando com famílias, e elas questionam, porque não têm como entrar e lavar, o manuseio é diferente. Na cisterna de placa, a própria família pode consertar. São cisternas para 30 anos, mas essas com três meses estão deformando. Eles repuseram, mas vão repor até quando?", alegou o técnico do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada, em Juazeiro (BA), José Carlos dos Santos Neri